sexta-feira, 24 de abril de 2015

Piada de professor sobre leis e mulheres gera polêmica entre estudantes da PUCRS



 Piada de professor sobre leis e mulheres gera polêmica entre estudantes da PUCRS
Universidade disse que irá tomar "medidas cabíveis" sobre o caso por Bruna Vargas Atualizada em 24/04/2015 | 20h16

Uma brincadeira de gosto duvidoso em uma aula da PUCRS, em Porto Alegre, desencadeou uma polêmica entre estudantes, professor e universidade na última quarta-feira. 

Segundo depoimento de alunos, tudo começou quando Fábio Melo de Azambuja, que ministra a cadeira de Direito Empresarial III, teria pedido licença para "contar uma piada" durante a aula. 

— Ele perguntou se podia e ninguém contestou. Aí ele disse: as leis são como as mulheres, foram feitas para serem violadas — relata o estudante Luan Sanchotene, 25 anos. 

Impressionado com a reação dos colegas — muitos riram da comparação, segundo Luan — diante de uma declaração que "incitava a violência" contra as mulheres (que seriam maioria na turma), o aluno resolveu compartilhar a frase em sua página do Facebook. A repercussão foi imediata.
— Me surpreendeu positivamente o fato de as pessoas se preocuparem com isso. Algumas pessoas ficaram constrangidas, mas, na hora, ninguém vai bater de frente com o professor, correndo o risco de ter algum prejuízo — ponderou. 

Até o fim da tarde de quinta-feira, a publicação tinha 80 compartilhamentos na rede social, além de dezenas de comentários — contra e a favor do professor, que seria conhecido por suas brincadeiras em sala de aula. O episódio motivou uma reunião de estudantes com a diretoria da universidade. Integrante do DCE da PUCRS, Paula Volkart considerou a ocorrência "grave". Ela disse que deve ser aberta uma sindicância para apurar os fatos.
— Foi um ato de misoginia e machismo, uma apologia ao estupro dentro da sala de aula, e o DCE mantém uma posição que é contra as opressões. Depois disso, outras pessoas vieram até nós e relataram casos que aconteceram com o mesmo professor. Sabemos que é muito difícil que ele seja afastado, mas é importante que a PUC se posicione em relação a isso — avaliou.

Na manhã de sexta-feira, a aluna Júlia Scheirr, do 7º semestre de Direito, que organizava um ato em desagravo ao professor, marcado para a manhã desta sexta-feira, disse que estava na aula e as queixas tiraram o comentário do contexto. 

— Não estamos defendendo a piada, longe disso, que foi infeliz. Sou mulher, achei a brincadeira infame, mas foi uma brincadeira. Estamos em defesa do professor, que é maravilhoso e querido por todos. Quando ele disse aquilo, ninguém se manifestou. Se a pessoa se ofendeu, poderia ter dito no ato, em vez de postar nas redes sociais. Pessoas que não estavam na aula retiraram a frase do contexto — afirmou.

A universidade, em nota, disse que "os fatos já estão sendo averiguados pela Faculdade de Direito, que irá ouvir o professor e, conforme as informações coletadas, tomar as medidas cabíveis para o caso. A PUCRS e a Faculdade de Direito não compactuam com qualquer manifestação ofensiva".

Zero Hora só conseguiu falar com o professor Azambuja na noite desta sexta-feira. Ele disse que "o assunto já está encerrado na faculdade" e não quis comentar o caso. 

*ZERO HORA

fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/porto-alegre/noticia/2015/04/piada-de-professor-sobre-leis-e-mulheres-gera-polemica-entre-estudantes-da-pucrs-4746132.html

Jovem que combateu o machismo fazendo a careta do dentinho







Estudante contando a história no Facebook já recebeu 18 mil curtidas e teve milhares de compartilhamentos



No decorrer da História, não foram poucas as mulheres que lutaram contra o machismo. E isso foi feito das mais diversas formas, cada uma ajudando a luta feminista a dar um passo à frente. Na última sexta-feira, a mineira Débora Adorno encontrou uma maneira inédita de constranger homens que a intimidavam com cantadas e olhares: a careta do dentinho.

Publicação by Débora Adorno.

A careta do dentinho consiste em dobrar o lábio superior para dentro da boca, de forma que a arcada dentária fique exposta constantemente – algo entre o ridículo e o constrangedor. Em um post no seu perfil no Facebook – que já tem mais de 18 mil curtidas, 2,6 mil compartilhamentos e virou notícia no BuzzFeed – Débora conta que, "de um segundo pro outro, eu parei de receber cantada, tipo, NENHUM CARA MAIS MEXEU COMIGO! Os caras olhavam e rapidamente desviavam o olhar". "Nessa hora choveu um arco-íris dentro de mim", ela resume.

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– Foi coisa de momento, mesmo. Nós, mulheres, acabamos tendo que nos "acostumar" com essa situação. No Brasil e em muitos outros países existe essa cultura machista muito forte, que dita que cantadas de rua são inofensivas, apenas elogios. Assim, os homens se sentem no direito de nos abordar. O que me motivou a escrever o post foi o sentimento que tive de estar empoderada, de estar ativamente lutando e "vencendo" a cultura machista – conta a estudante de Administração Pública, 22 anos, em entrevista a ZH via Facebook.

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Tudo rolou na sexta-feira, mas a história ganhou fama nesta terça-feira, quando o portal BuzzFeed reproduziu o post de Débora. Desde lá, a estudante diz que seu perfil no Facebook "ficou maluco". Segundo ela, praticamente todas as mensagens são de parabéns e agradecimento.

– Mas tem também muitos homens que parece não terem entendido nada do texto, já que puxam conversa comigo justamente para me passar cantadas! – diz.

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Por ser divertido e ter sido escrito de uma maneira engraçada, o post não foi entendido por muitas pessoas, garante Débora. Ela diz que muitos viram o texto como uma piada atacando pessoas com deficiência física – já que em determinado momento, ela escreve que "os caras olhavam e rapidamente desviava o olhar, provavelmente pensando que eu tinha alguma deformação ou doença" – algo que nunca foi sua intenção.

– Jamais quis ridicularizar ou ofender essas pessoas. Se o fiz, peço imensas desculpas. O objetivo principal do relato foi criticar a cultura machista das cantadas de rua e relatar a maneira que encontrei de me defender dos assédios _ diz a jovem.

Desde sexta-feira, Débora saiu pouco de casa. É provável que as cantadas e os assédios não tenham sido os últimos. Caso ocorra de novo, ela diz que pretende continuar utilizando a técnica. Mas lamenta que a forma que achou para se afastar das aproximações indesejadas envolva modificar sua aparência, e não a cultura machista:

– O fato de eu ter conseguido constranger os homens e assim evitar cantadas foi conquistado a partir do fato de que eu tive que moldar minha aparência para uma aparência que não fosse o padrão machista de beleza. Isso é complicado, porque não somos nós, mulheres, que devemos nos moldar para que não sejamos atacadas. Isso passa um pouco a idéia de culpabilização da vítima, que seria algo como "ah, se a garota não fez a careta do dentinho, ela estava querendo receber cantadas".

fonte: ZERO HORA Porto Alegre - RS